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400 ANOS DA IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA – A SÃO JOÃOZINHO

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400 ANOS DA IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA – A SÃO JOÃOZINHO

Por: Cassio Pessoa Araújo

Erguida no coração do bairro da Cidade Velha em Belém do Pará, a Igreja de “São Joãozinho”, como é conhecida e carinhosamente chamada, teve como primitiva e modesta ermida dedicada à São João Batista por volta de 1622, segundo Mons. Américo Leal em seu livro: História de uma Igreja e cercanias (1969), a mando do Capitão-mor Bento Maciel Parente foi erguida ainda em taipa e coberto de palha, dentro da mata, no mesmo lugar da atual, para satisfazer o pedido dos colonos portugueses saudosos da pátria, para que assim pudessem reviver a festa de um dos seus santos mais populares, São João Batista, colocando‐a como uma das primeiras igrejas de Belém, motivando a abertura da 4ª rua de Belém, Rua São João Batista, hoje, Rua Tomázia Perdigão.

Um fato histórico que marca esta pequena igreja de São João, ocorreu no ano de 1661, onde serviu de prisão para o padre Antônio Vieira, devido a sua dedicação contra a escravidão indígena, porém poucos dias passou o famoso orador sacro na capela, pois logo as autoridades enviaram-no para São Luís, sede do governo do Estado do Maranhão e Grão-Pará, à época.

Em 1686, a primitiva capela foi demolida, em função do avançado estado de deterioração. Uma segunda igreja foi construída em seu lugar, também em taipa, e resistiu por quase um século. Apesar da simplicidade, a construção chegou a assumir as funções de matriz de Belém, em 1714, em virtude da má conservação da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Graça. Durante a primeira metade do século XVIII, o Santíssimo Sacramento foi trasladado da Matriz para a Capela de São João, em virtude das obras naquele templo.

Posteriormente, a Igreja de São João Batista foi agraciada com o título de catedral ou sede episcopal, com a criação do Bispado do Pará, após desvinculação do Bispado do Maranhão, e com a posse por procuração do seu primeiro Bispo, Dom Bartolomeu do Pilar no ano de 1721. A famosa frase: “para Sé de palha, Bispo de papelão” é atribuída a esse bispo, que ainda em Lisboa, repetia a todos que o cumprimentavam pela sua nomeação episcopal. Na Capela de São João, D. Bartolomeu foi sepultado, e posteriormente seus restos mortais foram trasladados, em 1774, para a Capela mor da Igreja da Sé de Belém, onde se encontra até hoje. A partir de 1720 com a criação do bispado, inicia-se um período de intensa vida religiosa e civil, a pequena igreja serviu de sede para os três primeiros bispos do Pará. Mas em 24 de dezembro de 1755, quando o Bispo da época já era Dom Miguel de Bulhões (3º Bispo do Pará), foi trasladado o Santíssimo Sacramento de volta para a Igreja da Sé ainda em obras, encerrando assim as atividades de Matriz na Capela de São João Batista.

Talvez por um motivo sentimental os paroquianos da Igreja da Sé na época solicitaram a construção ao arquiteto Antônio Landi da nova ermida e ajudaram com recursos financeiros e muito trabalho, iniciando a construção deste novo templo, em 1772, com a benção da pedra fundamental pelo Arcediago Manuel das Neves e concluída no dia 23 de junho de 1777, quando foi celebrada a primeira missa na nova igreja. Hoje pode-se contemplar a sua terceira edificação, idealizada pelo arquiteto italiano, e exclamar como Germain Bazin, que foi o conservador-chefe do Museu do Louvre, de que a Igreja de São João Batista é uma “Joyau d’architectur, es le chef d’oeuvre de Landi” – “Uma joia da arquitetura, e obra-prima de Landi”.

A atual construção da pequena Igreja de São João é composta por dois retábulos com altares nas duas laterais da nave. Neles, assim como na parede de fundo da capela‐mor, estão as maiores atrações dessa pequena construção religiosa: as pinturas parietais em trompe l’oiel. Trata‐se de uma técnica artística de ilusão, que sugere realidade e volumetria às imagens projetadas por meio da perspectiva, que se estendem pelo ambiente em elementos tridimensionais como os altares e as cimalhas.

Nos desenhos aparecem motivos característicos de Landi, denunciadores de sua ligação com a família Bibiena, cenógrafos reconhecidos no panorama europeu oitocentista. Guirlandas e vasos de flores, volutas invertidas se aliam a um resplendor com simbologia do Espírito Santo, motivo encontrado em outros projetos do arquiteto.

Os nichos e as janelas foram projetados para acentuar a ilusão de profundidade. Com o propósito de valorizar os efeitos cenográficos dessa pintura ilusionista, a iluminação natural foi cuidadosamente calculada. No altar principal e nos dois altares laterais foram preservadas as molduras que enquadrariam pinturas em tela, alusivas à vida de São João. Sendo que no centro do altar principal, posicionada à meia‐altura, há apenas uma moldura da tela, já sem a pintura original, que seguiria a mesma temática das outras duas telas.

Desde a primeira construção, até a atual somam quase 400 anos de história da igreja e da devoção a São João Batista, mesmo pequena, como uma caixinha de joia, e ainda assim é suficientemente grandiosa e desdobra mesmo com o passar do tempo o seu esplendor. Um legado artístico e religioso que contribui para a compreensão da nossa cultura e para definir as formas e os ritmos do primeiro ciclo de ocupação religiosa na Amazônia.

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– LEAL, Mons. Américo da Silva. História de uma Igreja e cercanias. Editora Falangola. Belém, 1969.

– TOCANTINS, Leandro. Santa Maria de Belém do Grão Pará: instantes e evocação da cidade. 2ª edição. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira (MEC), 1976.

– JUNIOR, Donatelo Mello. Antônio José Landi: Arquiteto de Belém. Belém, Editora Grafisa, 1973.

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